quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Uma criatura menos destrutiva

Já tive diversos veículos ao mesmo tempo na minha garagem. Carros, motos e lanchas. Desde abril de 2011 não tenho mais qualquer veículo motorizado. Agora tenho bicicletas. Ando muito à pé, de ônibus, trem e metrô. A carona também é uma alternativa. Viagens também as faço com esses meios de transporte incluindo navios e aviões.
Minha preferência é para o transporte coletivo e evito ao máximo o individual motorizado. Táxis, só numa emergência. Foi uma atitude tomada em 2009, quando completei 50 anos.  Decidi em 2007 começar a mudar meu estilo de vida para trilhar esse caminho, de me tornar uma criatura ambientalmente menos destrutiva. Mas essa meta já vinha ensaiando muitos anos antes. Como demorou!
Outros fatores também contribuíram para essa tomada de decisão que pretendo não reverter. Mas, confesso que é difícil, diante de tantos estímulos publicitários, incentivos de governo e facilidades de compras, manter essa decisão.
Para a maioria das pessoas com quem convivo virei um "bicho grilo". Todavia, sinto-me ambientalmente mais ajustado. Por isso insisto. Antes de continuar o texto, convém assistir esse vídeo. Já vi muitas pessoas ouvindo palestras, assistindo filmes e pregando discursos ambientalistas, mas raramente encontro alguma destas praticando o que ouviu, viu ou pregou.
Duvido que você não se sensibilize com essa obra intitulada "O verdadeiro sentido das coisas". 

Alguns anos atrás pude conhecer, num grande centro urbano, uma família que foi passear em área rural com seus filhos. Um deles, ao ver uma galinha atravessar apressadamente a estrada gritou: “Olha, uma knorr”. Desde então tenho contado essa história em praticamente todas as minhas conversas, encontros, palestras, cursos etc. Já ouvi muitas variantes dela contada por outros e até piadas feitas.
Estou certo que não fui o único a ter uma experiência assim.
Como estamos dessintonizados da natureza! É que sou do tempo quando havia uma propaganda na TV sobre um tempero pronto que mostrava uma animação com uma galinha azul que terminava com a frase "Com Knorr é melhor".
No livro “A vingança de Gaia” James Ephraim Lovelock adverte que estamos abusando da Terra. Autor de centenas de artigos científicos e o criador da Hipótese de Gaia, já aceita no meio científico como Teoria de Gaia, seu mais polêmico alerta nos últimos anos tem sido advertir ao mundo que não é mais possível o desenvolvimento sustentável: “Esperar que o desenvolvimento sustentável ou a confiança em deixar as coisas como estão sejam políticas viáveis é como esperar que uma vítima de câncer no pulmão seja curada parando de fumar”, diz o guru ambientalista.
Considerando que metade da população mundial vive em áreas urbanas, Lovelock avisa: “Precisamos acima de tudo renovar aquele amor e empatia pela natureza que perdemos quando começamos nosso namoro com a vida urbana”.
Sobre o futuro da humanidade, o pesquisador é pragmático: “As perspectivas são sombrias, e, ainda que consigamos reagir com sucesso, passaremos por tempos difíceis, como em qualquer guerra, que nos levarão ao limite. Somos resistentes, e seria preciso mais do que a catástrofe climática prevista para eliminar todos os casais de seres humanos em condições de procriar. O que está em risco é a civilização. Como animais individuais, não somos tão especiais assim, e em certos aspectos a espécie humana é como uma doença planetária”.
Antes de odiá-lo por essas afirmações leia “A Vingança de Gaia”. Acredito que você se motivará à mobilização dos que estão ao seu redor para agirmos como ele próprio recomenda: “Precisamos agir agora como se estivéssemos prestes a ser atacados por um inimigo poderoso. Precisamos, acima de tudo, daquela mudança de corações e mentes que ocorre nas nações tribais quando pressentem o verdadeiro perigo”.

Esse outro vídeo nos faz pensar sobre outro grave problema que produzem as chaminés mostradas no primeiro vídeo:
O que precisamos fazer quando vemos uma obra dessas é nos perguntar "como posso contribuir para mudar isso"? Se decidirmos nos comprometer, e a palavra chave é "comprometimento", descobriremos que pequenas atitudes contribuem muito.
Eu tomei a decisão de não comprar mais veículos motorizados. Como a maioria das pessoas, antes disso eu também acreditava que era "impossível" viver sem carro! É o que ouço de praticamente todos que os têm: "A vida que levo, o trabalho que tenho, o local onde vivo, trabalho, me obrigam a ter carro. Sou 'obrigado' a ter no mínimo um".

Todos podem viver sem carro. Para isso você precisa mudar seu estilo de vida. Eu morava a dez quilômetros da minha empresa. Gastava quase meia hora em cada deslocamento (casa-trabalho ou trabalho-casa). Tinha um apto confortável. Decidi fazer uma kitinete numa área da empresa. Racionalizei espaços nela e sobrou para isso.
Fechei o apto (por três anos) e morei dentro da empresa. Com isso eu gastava menos de um minuto para o deslocamento casa-trabalho. Minha qualidade de vida melhorou muito. Além de ganhar uma hora todos os dias para qualquer outra atividade, eliminei o estresse de começar o meu dia com o trânsito congestionado, as filas intermináveis, as buzinas impacientes e os xingamentos por atrasar um segundo a largada quando o sinaleiro mudava do vermelho para o verde. Isso não existe mais na minha vida! Que mudança! Para melhor!
Depois, decidi melhorar ainda mais a minha qualidade de vida. Mudei a empresa de endereço. Isso porque fui morar numa casa, ampla, com espaço que também caberia a empresa. A mesma casa onde comecei a empreender. Fiz uma grande mudança na empresa também. Descentralizamos.
Sócios e empregados montaram escritórios nas suas casas, com toda a infraestrutura: computador, impressora, linha telefônica, internet, celular etc. Cada um na sua casa como se estivesse na sua sala na empresa. Uma vez por semana nos reunimos para avaliar a semana que passou e planejar a que inicia. Reduzimos custos, melhoramos qualidade de vida, nos tornamos mais produtivos. Ganhamos todos.
Agora, a empresa, que até 2010 ocupava uma área de mais de duzentos metros quadrados, está numa sala de vinte e cinco metros quadrados da minha casa, e sobra espaço. Ao lado de uma área de preservação, numa rua sem saída. No bairro Atiradores. Ao centro da cidade, às vezes, uma única vez por mês preciso ir. Evito-o ao máximo.
Há uns três anos eu estava no banho e ao olhar para baixo um susto. Me via eunuco! Meu corpo estava se deformando com uma enorme barriga a caminho. Desde a decisão de não ter mais carro, meu corpo vem voltando ao normal. Agora, no banho, encosto o queixo no peito e minha autoestima entra em ereção.
√ Não jogo mais gases que aumentam o efeito estufa no ar.
√ Não contribuo com a poluição sonora com motores ligados ou buzinas.
√ Não ajudo a congestionar o trânsito.
√ Não me estresso com as filas ou o trânsito parado.
√ Não alimento mais a indústria da multa que sempre dava um jeito de levar meu dinheiro.
√ Não pago mais um monte de taxas e licenças.
√ Já penso em cancelar meu plano de doença, que todos dizem ser plano de saúde.
√ Estou mais saudável, apesar de mais velho.
√ Me sinto mais vivo, apesar de cada vez mais próximo do ocaso.
√ Melhorei muito minha qualidade de vida.
√ Saí da teoria ambiental para a prática sustentável.
Que conquista! Vale a pena.

2 comentários:

  1. que bacana esta narrativa! a natureza agradece e nós, ambientalistas, idem. o mundo seria mais feliz com pessoas como vc.

    parabéns

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  2. E tem gente que ainda se escandaliza por eu conseguir viver sem carro. Me perguntam como suporto andar de ônibus ou a pé... E eu me escandalizo com pessoas, que se pudessem, iriam com o carro até o banheiro, fazerem suas necessidades fisiológicas...

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